- Mas o que pretendes fazer agora?
- Morrer.
- Morrer? Que ideia! Deixa-te disso, Estevão. Não se morre por tão pouco...
- Morre-se. Quem não padece estas dores não as pode avaliar. O golpe foi profundo, e o meu coração é pusilânime; por mais aborrecível que pareça a ideia da morte, pior, muito pior do que ela, é a de viver. Ah! tu não sabes o que isto é?
- Sei: um namoro gorado...
- Luís!
- ... E se em cada caso de namoro gorado morresse um homem, tinha já diminuído muito o gênero humano, e Maltus perderia o latim. Anda, sobe.
Estevão meteu a mão nos cabelos com um gesto de angústia; Luís Alves sacudiu a cabeça e sorriu. Achavam-se os dois no corredor da casa de Luís Alves, à Rua da Constituição, - que então chamava dos Ciganos; - então, isto é, em 1853, uma bagatela de vinte anos que lá vão, levando talvez consigo as ilusões do leito, e deixando-lhe em troca(usurários!) uma triste, crua e desconsolada experiência.
A mão e a luva.
Machado de Assis
2 comentários:
Machado é um homem sem igual!
olá, flavia.
não sei lidar muito bem com elogios, mas acho que fico bem feliz em dizeres que gostas de ler o dueto de um, em especial os diálogos com sophie.
- sophie não tem problemas com elogios e já se acha toda aqui.
enfim, sinto-me contente em saber que queres colocar o dueto de um entre teus indicados.
e agradeço.
um beijo.
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