- Marcio, pra onde você vai?
- Vou me mudar.
Eu não consegui dizer nenhuma das palavras planejadas no caminho. Só consegui derramar mais lágrimas. Ele me deu um abraço.
- Vai ficar tudo bem. Olha pra mim e promete que vai ficar tudo bem. - disse ele ao ver meus olhos vermelhos.

- Esta sendo infantil. - Disse ele por repetidas vezes.
E viu aqueles olhos marejados e aqueles traços que ele jamais prestara tanta atenção como naquele momento, perpetuarem em sua memória. Sentiu um nó na garganta, me abraçou erguendo a alguns centímetros do chão. Eu não estava sendo infantil. Eu o amava e ele nunca soube perceber isso, mas também eu nunca havia dito com todas as três palavras. Mas ele sabia, ele sentiu naquele abraço, naqueles olhos. Então o abraço se desfez e ele me beijou. Eu permaneci calada, mesmo após o beijo. Pensava que aquele beijo fora um forma de fazer-me reagir. Despedidas são difíceis. Ele se mostrava cada vez mais confuso, então eu disse quase como um sussurro:
- Vou indo, boa sorte. Me liga se lembrar.
Então ele me segurou e naquele momento, percebeu o quanto sentiria minha falta. Era tarde. Era tarde para ele descobrir o quanto gostava de mim, o quanto precisava de mim. Ele nunca havia percebido, pois eu nunca deixei de estar ao seu lado. Ele retirou do seu pescoço uma fina corrente de prata e me deu. Eu disse que não queria, só as lembranças bastavam. Ele insistiu e a colocou em duas voltas no meu pulso. Então num súbito desejo de acabar logo com aquilo, afastei-me e sorri pra ele, um sorriso tristemente bonito. Marcio agora estava sério, olhando para mim arrependendo-se do tempo que perdera, mas agora era tarde. Ele forçou um sorriso que não era nada parecido com o dele. Aquele sorriso largo, alegre, encantador pelo qual me apaixonara. Eu me afastava, com passos lentos, olhando para a corrente no meu pulso, como se esperasse que ele a alcançasse, mas sabia que ele não podia, mesmo que quisesse. Ele permaneceu ali, parado, esperando a hora de partir.Pessoas ao redor viam aquela cena e pensavam que era só mais um casal de namorados que se despediam, não sabiam nada da vida e viam novela demais. Mas não viam que ali parado estava alguém que acabara de descobrir que amava alguém mais do que a si mesmo e me viu desaparecer por entre passagens e pessoas apressadas. A descoberta viera tarde demais. Talvez voltássemos a nos encontrar ou talvez não. Estávamos nas mãos sórdidas do destino, já que quando esteve em nossas mãos não soubemos cultivar.
Pauta para Sílaba Tônica. Esse é mais um trecho de um texto antigo meu. O nome é amor incerto, esse é o último capitulo do "livro" e achei que deu bem certo para o tema: Imagem com frase - 10ª edição. Algum dia eu ainda posto o texto todo. Tem outro post, em relação a este texto, mas é "novo". Ah, sei lá, nada a declarar. Me desejem sorte.
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