segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Como se aquela luva tivesse sido feita para aquela mão.


 - Mas o que pretendes fazer agora? 
 - Morrer.
 - Morrer? Que ideia! Deixa-te disso, Estevão. Não se morre por tão pouco...
 - Morre-se. Quem não padece estas dores não as pode avaliar. O golpe foi profundo, e o meu coração é pusilânime; por mais aborrecível que pareça a ideia da morte, pior, muito pior do que ela, é a de viver. Ah! tu não sabes o que isto é?
 - Sei: um namoro gorado...
 - Luís!
 - ... E se em cada caso de namoro gorado morresse um homem, tinha já diminuído muito o gênero humano, e Maltus perderia o latim. Anda, sobe. 
Estevão meteu a mão nos cabelos com um gesto de angústia; Luís Alves sacudiu a cabeça e sorriu. Achavam-se os dois no corredor da casa de Luís Alves, à Rua da Constituição, - que então chamava dos Ciganos; - então, isto é, em 1853, uma bagatela de vinte anos que lá vão, levando talvez consigo as ilusões do leito, e deixando-lhe em troca(usurários!) uma triste, crua e desconsolada experiência. 


A mão e a luva.
Machado de Assis

2 comentários:

R. Souza disse...

Machado é um homem sem igual!

angelic fruitcake disse...

olá, flavia.

não sei lidar muito bem com elogios, mas acho que fico bem feliz em dizeres que gostas de ler o dueto de um, em especial os diálogos com sophie.
- sophie não tem problemas com elogios e já se acha toda aqui.
enfim, sinto-me contente em saber que queres colocar o dueto de um entre teus indicados.
e agradeço.

um beijo.