quinta-feira, 14 de julho de 2011

O preço.

 Hoje faz exatamente um ano que estou encarcerado aqui. Encaro isso como uma comemoração afinal agora falta apenas oito anos. Olho pela grade na parede, que por muitas vezes me serviu de janela para ver o mundo la fora. A última luz se apaga no prédio em frente ao meu, era a última janela iluminada. É alta a madrugada, já é tarde demais. Essa parte da música se repetia em minha mente, nem eu sei por quê. Comecei então a me lembrar o motivo que eu estava aqui. De acordo com meus rabiscos na parede, há 366 dias eu andava na rua livre. Bolava planos e me sentia vingativo. Namorei uma garota pela qual eu era perdidamente apaixonado. Sempre fiz tudo, dei minha vida por ela. Na verdade, dei minha liberdade pela vida dela. Liza era linda, começamos a namorar quando tínhamos 13 anos. Olhos verdes, pele branca, sorriso curto. Namoramos até os 19, com algumas pausas. Com 16 anos, o pai dela não aceitava nosso namoro ainda. Isso me deixava revoltado. Pela 5ª vez ela pediu um tempo. Eu estava muito cansado desses malditos tempos dela e terminei logo. Comecei a me envolver com outras garotas e com outro tipo de gente. Conheci o outro lado da vida. Envolvi-me com drogas. Eu não comecei pelo álcool como todo mundo diz que é. Apresentaram-me logo de cara a maconha. Usei, gostei e fui além. Comecei a traficar aquilo. Ganhava um dinheiro danado. Larguei a escola. Não precisaria mais de faculdade alguma. Liza sempre estava na minha mente, apesar de tudo aquilo. Comprei flores e fui falar com ela. Disse tudo, mas que precisava dela pra me reerguer, ela era meu alicerce e sabia disso. Reatamos, e eu tentei tudo de novo. Voltei pra escola, larguei mão do trafico. Mas quando se entra nessa por uma vez, é difícil sair cara. Sempre tinha gente me ligando pra saber das drogas. Aquele mundo me chamava de novo e eu cai na tentação. Liza não sabia, mas eu continuava participando desse constante serial. Os anos se passaram, eu já havia parado de estudar de novo e andava com turmas do trafico. Liza fingia não ver, mas sempre tentava me mostrar o quão ruim aquilo era pra mim, mas eu estava tomado pelo poder. Pelo bem dela, nós terminamos. Eu não queria, mas ela me disse: ou eles, ou eu. Eu não podia escolher. "Você é imaturo demais Matias. Precisa escolher qual caminho seguir". Eu já não tinha escolhas, era o trafico ou minha vida. "Sempre em frente" foi o conselho que ela me deu. Eu fui tomado pela raiva, e pelo desejo da vingança. Peguei uma arma que guardava no paletó, e atirei em sua cabeça. Depois tirei um saquinho branco do bolso da calça e me sentei ao lado dela. "É, o preço que se paga às vezes é alto demais Liza." Eu sorria ao cheirar aquele pó branco que me deixava em êxtase. Passado algum tempo a policia chegou. E agora eu pago os meus pecados. Fui julgado e condenado culpado por mim mesmo. Minhas primeiras e únicas palavras ditas no tribunal foram: "o preço que se paga às vezes é alto demais." a arma na mão, o saquinho branco na outra e com um sorriso no rosto.


Pauta para 13ª edição sentidos do Projeto Suas Palavras e 76ª Edição Musical do Bloínques.