segunda-feira, 26 de setembro de 2011

E eu ainda penso em você.

Querida importância,

Quero que saibas que eu chorei noites por causa daquele bilhete. É, nunca pensei que já fariam seis anos desde que te conheci. A gente mudou tanto. Não vou começar a falar de como era naquele tempo, ou de como tudo pôde se transformar tão rápido. Não quero que esta carta fique grande, e não quero chorar mais. Você sabe que apesar de fria por fora, sua pequena garotinha é tremendamente extremista por dentro. Eu queria dizer que eu sinto sua falta, que você ainda é alguma coisa na minha vida. Mas você sabe que eu não vou, você sabe que eu não tenho coragem. Então fica por isso mesmo. A gente se afasta, e se for destino, a gente se une. Pelo lado bom, a parte de se afastar já foi. E esse tal de destino me fez chorar e tomar pra coragem pra escrever(ninguém aqui falou em entregar). Por fim, eu quero te pedir uma coisa: Seja feliz. Tem tanta coisa nessa vida que vai te atrapalhar, tanta coisa que vai te aborrecer... Mas esquiva-te disso meu menino. O mundo gosta do teu sorriso de dentes tortos, que chega a ser fofo. Então... seja feliz. Mas seja comigo.
Ps: Você sempre será importante pra mim.
24/09/11 - Caneta vermelha e folha com linhas pretas, dobrado duas vezes, totalmente torto. Quebrei nossa regras.




Já eram quase três horas da madrugada de sábado. Ela entrara em casa sorrindo das coisas bobas que aconteceram naquele dia. "Sempre as coisas mais bobas me fazendo sorrir. Boba acabo sendo eu." Tira a sandália de salto com um certo alivio por poder colocar os pés no chão. Mexe a ponta dos dedos, como se certificasse que ainda podia se mover. Cheira a gola da jaqueta de couro. Tinha o perfume dele. Sorri, agora muito mais boba. Tira cautelosamente a calça, ainda no escuro, e a joga em cima de qualquer coisa. Anda até o banheiro, ainda com a jaqueta de couro e o perfume exalando entre os cachos de seu cabelo. Revista cada partícula da jaqueta antes de abandoná-la pela casa. E no primeiro bolso, assim de cara, acha um papel. Pega-o toda ansiosa. No começo, ela achou estranho que estivesse logo no bolso esquerdo, mas não percebeu tal estranheza. O papel era de um caderno simples, com linhas azuis."Do jeito certo", pensou. Dobrado para a direita em quatro partes idênticas. Ou ela estava paranoica, ou aquele bilhete vinha de alguém paranoico. Escrito sem seguir as linhas,("pra que isso, diria ele.", pensou ela.) e por uma caneta preta as palavras: "Você é importante pra mim." A data em baixo dizia: 23/09/05. Após segundos de lembrança, nota-se um "ainda"  de caneta vermelha, colocado entre as palavras você e é, com a nova data em cima: 23/09/11.  Amassou o papel e os seus olhos se encheram de lágrimas. Agora, nem perfume ou dor nos pés fariam diferença. Sabia que aquele bilhete, toda aquela paranoia, até a letra quase bonitinha, vinham de alguém muito mais importante que perfumes ou noitadas de sábado. Mas ela nunca admitiria. "Então demonstre", chegou a falar em voz baixa, como se o papel fosse respondê-la. Fechou os olhos, deixando lágrimas escorrerem pela bochecha rosada, e lavarem todo aquele perfume, se esquecendo completamente que havia sorrido hoje. "Quem dera, demonstrasse eu.". E dormiu, chorando no banheiro, abraçada na jaqueta de couro. Mas longe da gola. Com a mão no bolso esquerdo.





Pautas para 85ª Edição Conto/História e  61ª Edição Cartas do Bloínques.

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