quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Acordar de madrugada sem saber o que fazer.

Assistia a cena calado, afinal, eu não poderia fazer nada mesmo. Minhas mãos estavam acorrentadas no braço da cadeira e minha boca tampada com uma faixa. Não havia mais ninguém naquela sala e a tensão do video era suficiente. Uma garota loira, não muito alta, mas pelo que via, bastante forte e rude. Um garoto moreno, cabelos cacheados, alto. Ele era meu melhor amigo. Ela?! Minha ex namorada. A imagem não era muito boa, por isso não se notava o rosto dos protagonistas, mas eu os reconhecia. Estavam em algum lugar meio abandonado, a câmera escondida, e talvez por isso o som também era difícil de entender. Mas os movimentos deles me agonizavam. Tudo começou bem sedutor, e pensei que aquilo seria alguma brincadeira para me fazer ficar com raiva do Rodrigo. Logo nos 10 primeiros segundos, ela tira uma arma da bota. Aponta pra cabeça dele, e grita coisas como: "Eu te disse pra me ajudar, e você teria o quer. Seu inútil." Eu me remexia inquieto na cadeira. Gritava me sufocando cada vez mais com aquele lenço preto. Já fazia quase um ano que meu namoro com ela tinha acabado. O motivo parece estar claro né. Mirela sempre foi muito controladora, e eu suspeitava de suas traições. Mas Rodrigo, ele nunca pareceu estar envolvido nas tramas dela. Foi meu ouvinte esse tempo todo, me escutava falar até a falta que eu sentia dela. Meu cérebro relacionava as coisas aos poucos. Rodrigo era quem esteve do meu lado desde que eu e Mirela terminamos. Seus conselhos normalmente diziam para que eu voltasse pra ela apesar de tudo. Seria tudo uma trama? Ele chorava por piedade no video. Ela dizia ter me visto com outra, e ele dizia que tentou me impedir. O casal perfeito, querendo arruinar minha vida.
- Eu te disse que se ele não voltasse pra mim, queria ele morto.
- Acha que eu seria capaz de matar meu melhor amigo? Nem pelo prazer de estar com você. Só fiz isso tudo pelo sexo.
Então era isso? Os dois estiveram juntos esse tempo todo tentando fazer com que eu voltasse para Mirela. Rodrigo sabia que eu a amava, mas nunca voltaria pra ela. Ele me queria morto. Neste instante já havia desistido de lutar contra a cadeira, e deixava lágrimas caírem pelo meu rosto. De raiva ou dor talvez.
- Me de uma segunda chance.
- Nem com cem chances você conseguiria.
Ouviu-se o gatilho da arma sendo puxado. O silêncio agora era forte. A respiração dele era notável. Ela dá alguns pra trás, e atira. De olhos fechados e tremendo. Joga a arma no chão e sai correndo. Rodrigo caiu no chão no mesmo instante, o sangue da cabeça manchava todo o chão. Não sabia o que sentir. Minhas mãos foram soltas da cadeira e eu nem havia percebido. Uma voz sai de algum lugar da sala:
- Esse era seu melhor amigo? Ela já foi sua namorada? Você precisa mudar suas companhias, Pedro. Na mesa do seu lado tem a arma que Mirela usou para matar Rodrigo. Você é digno de usá-la para matá-la?
O sentimento de vingança tomava conta de mim. E de repente eu sorria. Um sorriso maligno formou em meu rosto. Então era isso? Rodrigo passou um ano me ouvindo, para ajudar Mirela a me ter de volta, quando tudo que ele queria, era o prazer de estar com ela. Sabendo que ela não me teria, ele me mataria pois foi o acordo deles. Não sendo capaz de encostar as mãos repugnantes dele em mim, ele morre. Apesar de assustadora, essa informação era a única que fazia sentido. Até porque, pra quem acorda em uma sala desconhecida, amarrado a uma cadeira de ferro, com videos e vozes estranhas, nada parece ter sentido. A única coisa que parecia fazer sentido, era o meu desejo de matar Mirela.



Pauta para 90ª Edição Conto/História do Bloínques.

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