terça-feira, 19 de junho de 2012

Sobres amores mal acabados.

 - Li uma coisa esses dias... -não tinha como não ler. Era quase como se você o tivesse pichado no muro do meu quintal e quisesse que isso passasse despercebido. - Acho que era tua.
 - Ah, não ando escrevendo. Parei com essas bobagens sabe? Era coisa de época. Mas vamos, diga-me... o que foi que leu?
 - Li algo sobre amores mal acabados. Era uma estória, penso eu. O clichê do casal que se perdeu no tempo e se perdeu de si. Era naturais e faziam planos, jovens, amigos de não tão longa data. Sei que se perderam no meio de seus próprios planos e... não se sabe ao certo o que houve com cada um deles. O certo é que o "eles" havia acabado. Eu gosto de pensar que ela sentia falta dele, mas não demonstrava pra ninguém. Tem um quê de parecer forte. Ele sente muito mais a falta dela e, hesita em discar o número dela no celular todas as noites (no mesmo horário). A questão em si é que eles ainda se amam, mas sumiram um do outro e continuam a vida como se aquele fosse só mais um amor de época.
Ela riu, por não saber o que responder.
 - Já sei, já sei. O que me pensar que era um texto seu né!? As palavras e a história bobinha, mas que sempre me faz pensar no final que você nunca põe. Ah, você também nunca dá nome aos personagens... Isso tornaria a história muito fechada. "Tem que deixar o leitor aflorar a mente." Era algo mais ou menos assim. - Disse a ultima frase pondo aspas no ar, imitando a voz fina da garota e rindo de se lembrar de tanta coisa.
 - Deve ser um texto antigo. Nem sei onde você acha essas babaquices.
A verdade é que ambos sabiam onde achar e sabiam muito mais da data dele. Bem recente, pra ficar claro. Ele pensou várias vezes em dizer que sempre visitava o cantinho, que ficava na barra de favoritos, que reparava quando ela mudava a cor da barra de ferramentas de preto para preto fosco, que gostava mais do banner antes, que ela escreve bem... Mas não disse nada disso. Talvez estivesse claro em teus olhos. Ela pensou várias vezes em desmentir sobre não escrever, perguntar se ele tem ido bastante lá, perguntar se o novo layout tava bom, perguntar se ele entende as entrelinhas... Mas não perguntou nada. E ficaram em silêncio, por poucos segundos. Mas estes que podem ser chamados de séculos, devido à demora em passar.
 - Ah, tô com um pouco de pressa. Sabe né, estudos... Preciso ir. - Foi a forma mais clichê de quebrar o gelo e fugir daquele silêncio (e dele) assustador.
Um abraço, meio constrangedor e sussurro na orelha:
 - Direta ou indiretamente tudo que se escreve é pra alguém, pequena.
Não, ela não chorou. Talvez tenha sorrido... é! Ela só sorriu e o abraçou de volta, tornando o abraço um pouco menos desajeitado. Sorriu e pensou que talvez devesse pintar mais muros nos quintais.

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