- Tá vendo aquele ursinho ali?! Eu vou ganha-lo para você.
- Tô vendo só um ursão.
Saímos correndo, entre risos e sorrisos, até a banca de pescaria.
- Eu quero um ficha, porque você ganhar aquele urso para minha linda.
Eu corei e me senti muito especial. Em poucos minutos ele estava entre nós. Denominamos RaFa, devido aos nossos nomes: Rafaela e Fabrício. Hoje ele está rasgado, abandonado em uma caixa qualquer. Foi naquele dia que demos nosso primeiro beijo e que você quis levar nossa relação a sério:
- Namora comigo?
A partir do momento que respondi sim àquela pergunta, me senti diferente. E foi assim que tudo começou. O tempo foi se passando rápido demais para nós. No meu aniversário de 17 anos perdi meu pai. Eu já havia me distanciado bastante de minha família e mesmo assim tudo foi bem difícil. Felizmente eu tinha ele do meu lado. Mal sabia que por pouco tempo.
- Rá, tenho que voltar para minha cidade nessas férias. Meus fi... sobrinhos me esperam.
Foram os dois mais longos meses de férias. Não saía com amigos, pois já não os tinha, brigava com qualquer um da família o tempo todo, passava longe de qualquer tipo de diversão. Vivi uma profunda depressão. Mas essa época passou, assim como todas as outras, inclusive as boas. Cheguei então, a maioridade. Agora era dona de meu próprio nariz. Podia fazer a qualquer momento qualquer vestibular e sair finalmente daquela casa infernal. Não havia nada que me interessasse naquela cidade, porém não me sentia pronta para cursar algo. Fiz um cursinho antes. Com 19 anos passei no vestibular em engenharia mecatrônica na UFV, em Viçosa, a cidade que ele morava. Achei que era momento certo para irmos mais adiante.
- Poderíamos morar juntos.
Ele aceitou. Hesitando, mas aceitou.
Passando uma semana de estadia na minha nova morada eu percebi alterações no humor dele, porém tinha certeza que a culpa não era minha.
Certo dia, ouvi gritos vindo da cozinha:
- Fernanda, cuide dessa sua filha.
- Não trate ela assim. Não a fiz sozinha, você também é pai dela.
Foi ai que caiu minha ficha. As empregadas não eram realmente empregadas, e sim, família dele. Meu mundo parou naquele instante. 2002, o mundo desabou, apenas para mim. Sei que continuaria o amando mesmo após isso. Mas não sei se merecia acabar com uma família. Sai correndo daquele lugar que eu costumava chamar de casa. Lágrimas se misturavam com o vento, e o choro se misturava com gritos dentro de mim. Encontrei um local abandonado. Ali me alojei pelos últimos vinte minutos mais torturantes de minha vida. Escrevi uma carta a qual entreguei para um andante da rua:
"Querido Fabrício,
Nem sei bem ao certo se ainda posso te chamar assim. Hoje eu descobri toda a verdade, e espero que sejas feliz com Fernanda e suas filhas. Acho que não sou digna de acabar com seu casamento. Lhe agradeço profundamente pelos momentos que passamos, mas sinto que está na minha hora. Adeus!
Da sua eterna, Rafaela."Tirei meu cinto e o amarrei peculiarmente na lâmpada prendida no teto, com um laço me prendi pelo pescoço. Em pé sobre um banco, tendia meus últimos segundos. Quando empurrei o banco, o cinto foi se apertando contra meu pescoço, prendendo minha respiração. Foram os momentos mais agonizantes de minha vida, fora ter descoberto tudo. Aquilo me sufocava. Fui morrendo aos poucos. A dor me atingia de maneira horrenda, e eu me sentia merecedora de todo aquele prazer. Me encontraram dali dois dias, com a cara roxa.
Pauta para Blorkutando. A ideia principal foi da Amanda, que escreve Palavras soltas e me ofereceu ela. Muito obrigada Horta. Me desejem sorte. Ps: o titulo é assim mesmo, foi uma brincadeira com o som, a escrita e o significado das palavras.
3 comentários:
Entonse né. Eu sei que eu posso ;D
Fuve, vc sabe que eu amei, então, boa sorte atrasado :x!
:**
Triste, mas lindo. E adorei o intenção do título, mas confesso que só entendi quando cheguei no final e li o seu PS.
Adoreei!
Conheço uma história muito, muito parecida.. :(
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