sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Cartinha de natal.

Querido papai noel,

Isso pode parecer um pouco ridículo, devido a minha idade, e a longa história que tenho com você. Mas esse ano, eu vim pedir pra você, uma unica coisa. Você nao vai precisar fazer brinquedo nenhum. Eu também não quero a felicidade, nem a paz. Eu só quero que por uma vez, a minha familia possa ter um natal. Já faz treze anos que eu tio morreu. Acho que a gente deveria tentar. Meu pai nunca veio com essa história de papai noel pra cima de mim, portanto nunca esperei nada no natal. E eu vejo todo mundo se aprontando, ajeitando para um natal do qual eu não vejo graça. Não temos ceia, não temos amigo oculto, e nem o espírito verdadeiro do natal. Nosso natal é uma correria. Hoje, depois de quatorze anos sem ao menos colocar meia na janela a espera de você, eu venho aqui, para humildemente lhe pedir que a minha familia possa ter um natal. Não quero um natal assim, igual o de todo mundo, que só dura um dia. Eu quero um natal que dure o ano todo. Porque "se o Natal não fosse um dia, não precisaríamos revelar, no fim do ano, o amigo oculto, pois os amigos seriam visíveis, verdadeiros e transparentes. Estariam a nossa espera a qualquer momento, e em vez de trocar presentes, trocaríamos bens que não podem ser vendidos, nem comprados, como o companheirismo e a fraternidade. Seriam dispensáveis os cartões de Natal, se vivêssemos no dia-a-dia, as mensagens que neles propagamos. Nossas atitudes seriam os melhores votos e felicitações. Se o Natal não fosse um dia, os corais entoariam cânticos para acalentar o Cristo Salvador que nasceria todos os dias nos corações humanos. Não haveria necessidade de pisca-piscas e enfeites, se deixássemos que a luz de Deus entrasse o ano todo em nossas casas, nosso trabalho, nosso viver. Teríamos um brilho diferente se estivéssemos sempre abertos para que a sabedoria divina governasse nossas vidas, nossa cidade, nosso país. Se o Natal não fosse um dia, não existiriam as ceias em que alguns bebem, comem e vomitam para comer mais, enquanto milhões morrem ao ano por não ter nada para comer. Não haveria campanhas no Natal dos pobres. Nem os ricos precisariam sair pela periferia doando as sobras de suas fartas ceias. Não existiriam pobres, nem ricos, todos se sentariam à mesma mesa, partilhando o "Pão nosso de cada dia", os bens da terra, os frutos do trabalho. Se o Natal não fosse um dia, nos envergonharíamos ao contemplar no presépio, Jesus na manjedoura, enquanto o ano todo viramos o rosto para tantos que nascem nas favelas, debaixo das pontes, nos viadutos. Não encontraríamos tantos Josés e tantas Marias expulsos de suas terras,  sem um chão para plantar ou colher enquanto alguns senhores não sabem o que fazer com tanta terra concentrada nas mãos.  Não viveríamos como Herodes assistindo ao extermínio de milhares de crianças nas ruas, nas Candelárias, na nossa frente. Não se mataria para roubar ou para sobreviver. Nem roubar seria necessário se vivêssemos o Natal todos os dias do ano, se nos considerássemos irmãos. Se o Natal não fosse um dia, meu tio, Geraldo Augusto, você e tantos outros que foram assassinados pela perversidade desse sistema, certamente estariam aqui, vivendo mais um dia em que o presente seria o abraço fraterno e igualdade. Se o Natal não fosse um dia, não nos limitaríamos a lavar nossas mãos e dizer, como Pilatos, que nada temos a ver com tudo isso. Natal não é um dia, é um renascer constante que acontece em gestos e atitudes e nos faz lembrar, como o poeta, que fomos feitos "para a esperança no milagre, para a participação na poesia, para ver a face da morte. De repente, nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem, da morte, apenas nascemos imensamente." Jesus nasceu e ressuscitou. E você vai continuar ai parado? Corra, dê um abraço, perdoe e deseje um feliz Natal, mas viva essa realidade durante todos os dias do Ano novo. Tudo seria melhor se o Natal não tivesse sido transformado nessa exploração social e econômica que nos faz esquecer a realidade do menino Jesus que nasceu pobre "envolto em panos e deitado numa manjedoura" (Lc 2,20) e nos curvamos à ganância do lucro, lógica de um sistema que nos afasta cada vez mais do Deus que se fez homem e veio justamente para destruir o egoísmo, a hipocrisia e a injustiça. "

Da Flávia, aquela que nunca acreditou em você.



Pauta para Bloínques e Blorkutando. Mas não vejam isso só como uma pauta, um texto para concorrer, leiam com atenção, e olhem nas entrelinhas.



Ps: a parte que está em aspas, é um texto do meu pai. Ele criou para o jornal, já que ele escreve na coluna todas as sextas. O texto é de 22/12/1995

2 comentários:

Any disse...

haaaaaaaaaaa!
voocê poostou! *-*
agoora eu nem ganho no bloinques heiin hun'
hasuahsusahusahuas
tá lindo
parabéens (:
boa sorte

A.Horta disse...

Filhotaa! Tá mt lindo. Perfeito.
Parabéns pelo primeirissimo lugar merecido \o\
Beijos da sua mãe adotiva que te morde sz