Ele saiu às pressas do trabalho e foi pegar o filho Dylan de 5 anos, na escola. Aparentemente ele havia sido expulso de sala por um motivo certamente estúpido.
- O que houve?
- Seu filho está fingindo ser surdo. E existe um garoto na sala dele, que é realmente surdo de nascença, e acha que Dylan está zombando da cara dele.
- Hey Dylan, já conversamos sobre isso. Nós sabemos que você não é surdo, mas gostaria de ser. - Pegou o pequeno no colo, e olhando para o diretor disse - Ele não faz por mal.
- Os pais do garoto querem que peçam desculpas ao filho dele.
Dylan estava quieto, somente mexia a cabeça mostrando que concordava com tudo que o pai dizia.
O pai cheirava a suor, recém saido do trabalho, e falava de forma desanimada. O modo como passou a mão no cabelo, antes de entrar no carro, dava pra imaginar uma bagunça de papéis e telefone ligado no escritório. A correria até o colégio, a atenção nem toda focada no trânsito, e o excesso de velocidade. Três elementos que lembravam o dia do acidente. Bastava que estivesse chovendo para ser clichê o suficiente. Era um Renault 5 vermelho escuro. O caminho estava vazio. Ele aumentou o volume do rádio para relaxar, e acordou Dylan que já dormia no banco traseiro. Todos começaram a cantar, e por alguns minutos, o motorista resistiu ao sono. O garoto entoava o refrão sem nem abrir o olhos. A canção continuou tocando depois da freada, com a criança voando pela janela, e com o motorista que mordia os lábios enquanto tentava controlar o carro com o ritmo da música grudado na cabeça. Tudo aconteceu em menos de um minuto, porque, afinal, embora o rádio tivesse parado de funcionar, ele calculou que a música ainda tocava em todos os rádios ligados naquela hora.
Qualquer semelhança notada com o livro De música ligera, Aixa de La Cruz, não é mera coincidência. Pode haver por aí, citações, nomes ou a simples ideia inicial de ter Bob Dylan no papel, ou um menino que queria ser surdo, ou um acidente de carro.
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